Carta - Páscoa 2024
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No sábado, 19 de setembro de 1846, uma "bela senhora" aparece a duas crianças, naturais de Corps, nos alpes franceses: Maximino Giraud, de onze anos, e Melânia Calvat, com quase quinze, que pastoreiam seus rebanhos numa pastagem alpina de La Salette, o monte Planeau, a 1.800 metros de altitude. No fundo de um valezinho, subitamente vêem um globo de fogo - "como se o sol tivesse caído lá". Dentro da deslumbrante luz distinguem uma senhora, sentada, cotovelos apoiados sobre os joelhos e o rosto escondido entre as mãos.
A bela senhora levanta-se e lhes diz em francês:

Vinde, meus filhos, não tenhais medo,
Aqui estou para vos contar uma grande novidade.

Dá alguns passos em direção a eles. Tanquilizados, Maximino e Melânia descem a ladeira: estão agora muito perto dela. A bela senhora não pára de chorar. É alta, e toda de luz. Está vestida como as senhoras da região: verstido longo, um grande avental sob medida, lenço cruzado e amarrado às costas, touca de camponesa. Uma corrente grande e achatada acompaha as bordas do lenço.
Outra corrente prende, sobre o peito, um grande crucifixo. Sob os braços da cruz, à esquerda do Cristo, um martelo; à direita, uma torquez. Do crucifixo emana toda a luz de que se compõe a aparição, luz que brilha em diadema sobre a fronte da bela senhora. Rosas coroam sua cabeça, orlam seu lenço, enfeitam seu calçado.

Eis o que a bela senhora diz aos dois pastores, primeiramente em francês:

Se meu povo não quer submeter-se,
sou forçada a deixar cair o braço de meu Filho.
É tão forte e tão pesado
que não posso mais segurá-lo.

Há quanto tempo sofro por vós!
Se quero que meu Filho não vos abandone,
sou incumbida de suplicá-lo sem cessar.
E quanto a vós, nem fazeis caso.

Por mais que rezeis, por mais que façais,
jamais podereis recompensar
a aflição que sofro por vós.

Dei-vos seis dias para trabalhar.
Reservei-me o sétimo,
e não mo querem conceder.
É isso que torna tão pesado o braço de meu Filho!
E também os carroceiros
não sabem jurar
sem usar o nome de meu Filho.
São essas as duas coisas
que tornam tão pesado o braço de meu Filho.

Se a colheita se estraga,
é só por vossa causa.
Eu vo-lo mostrei no ano passado
com as batatinhas:
Vós nem fizestes caso!
Ao contrário:
quando encontráveis batatinhas estragadas,
juráveis usando o nome de meu Filho.
Elas continuarão assim,
e neste ano, para o Natal, não haverá mais.

A palavra "batatinhas" deixa Melânia intrigada. No dialeto que é língua corrente na região, se diz "trufas". A pastora volta-se então para Maximino...mas a bela senhora se antecipa dizendo:

Não compreendeis, meus filhos?
Vou dizê-lo de outro modo.

E falando no dialeto de Corps, a bela senhora repete o que dizia a respeito da colheita, e prossegue:

Se tiverdes trigo, não se deve semeá-lo.
Tudo que semeardes será devorado pelos insetos,
e o que produzir se transformará em pó ao ser
malhado.

Virá uma grande fome.
Antes que a fome chegue,
as crianças menores de sete anos
serão acometidas de tremor e morrerão
nos braços das pessoas que as carregarem.
Os outros farão penitência pela fome.
As nozes caruncharão, as uvas apodrecerão.

Nesse ponto, a bela senhora confia um segredo a Maximino, e depois outro a Melânia. E prossegue seu discurso às crianças:

Se se converterem, as pedras e rochedos
se transformarão em montões de trigo,
e as batatinhas
serão semeadas nos roçados.
Fazeis bem vossa oração, meus filhos?

- "Não muito, Senhora!", confessam os dois pastores.

Ah! meus filhos, é preciso fazê-la bem, à noite e de manhã,
dizendo ao menos um Pai Nosso e uma Ave
Maria quando não puderdes fazer melhor.
Quando puderdes fazer melhor, dizei mais.

Durante o verão, só algumas mulheres de certa
idade vão à Missa.
os outros trabalham no domingo, durante todo
o verão.
Durante o inverno, quando não sabem o que
fazer, só vão à Missa para zombar da religião.
Durante a Quaresma vão ao açougue como cães.
Nunca vistes trigo estragado, meus filhos?

- "Não, Senhora!", respondem eles.

a bela senhora dirige-se então a Maximino:

Mas tu, meu filho, tu deves tê-lo visto
uma vez, em Coin, com teu pai.
O dono da roça disse a teu pai
que fosse ver seu trigo estragado.
E então, fostes ambos até lá,
apanhastes duas ou três espigas entre as mãos,
e, amarrotando-as, tudo caiu em pó.
Ao voltardes, quando não estáveis mais
do que a meia hora longe de Corps.
teu pai te deu um pedaço de pão
dizendo-te: "Toma, meu filho,
come pão ainda neste ano,
pois não sei quem dele comerá no ano próximo,
se o trigo continuar assim!"

- "Ah! sim, Senhora, responde Maximino, agora lembro. Há pouco não lembrava disso".
E a bela senhora conclui, não em dialeto, mas em francês:

Pois bem, meus filhos,
transmitireis isso a todo o meu povo.

Avança então, passa além do regato e, sem voltar-se insiste:

Vamos, meus filhos,
Transmiti isso a todo o meu povo.

A aparição galga uma ladeira sinousa que sobe em direção ao Collet (pequena garganta). Lá ela se eleva. As crianças dela se aproximam, Ela olha para o céu, depois para a terra. Voltada para o sudoeste, "ela se derrete na luz". E o clarão todo desaparece...

A 19 de setembro de 1851, depois de "exame exato e rigoroso" a respeito do evento, das testemunhas, do conteúdo da mensagem e de sua repercussão, Dom Philibert de Bruillard, Bispo de Grenoble, afirma, em pronunciamento doutrinal, que "a aparição da Virgem Santa a dois pastores, a 19 de setembro de 1846, sobre uma montanha da cadoia dos Alpes, situada na paróquia de La Salette,...traz em si mesma todas as características da verdade e que os fiéis têm razão em crê-la indubitável e certa".

A 1 de maio de 1852, em novo pronunciamento, depois de anunciar a construção de um Santuário sobre a montanha da aparição, o Bispo acrescentava: - "Por mais importante que seja a construção de um Santuário, há outra coisa mais importante ainda: são os ministros da Religião destinados a nele servir, a acolher os piedosos peregrinos, a lhes anunciar a palavra de Deus, a desempenhar em seu favor o ministério da reconciliação, a lhes ministrar o auguato sacramento de nossos altares, e a ser, para todos, OS DISPENSADORES FIÉIS DOS MISTÉRIOS DE DEUS e dos tesouros espirtuais da Igreja".

"Estes saccerdotes serão chamados Missionários de Nossa Senhora da Salette; sua criação e sua existência serão, bem como o próprio Santuário, uma perpétua lembrança da aparição misericordiosa de Maria".

Entre os sacerdotes que se impregnam do espírito da aparição, e se entregam ao serviço dos peregrimos, manifestam-se, desde o início, o apelo e a necessidade da vida religiosa. A 2 de fevereiro de 1858, seis dentre eles pronunciam os primeiros votos, segundo a regra provisória. Esta será adatada para os irmãos, em 1862: uns e outros formam uma só família religiosa. O primeiro Capítulo Geral, em 1876, elabora as Constituições e orienta a Congregação para o apostolado. O decreto "de louvor" (1879) e o decreto "de aprovação" (1890) situam o Instituto entre as congragações de direito pontifício. A Santa Sé aprova definitivamente as Constituições em 1926.

Enfin, nesses últimos anos, nossa família religiosa se entregou à tarefa de rever e atualizar suas Constituições e suas Normas Capitulares, segundo o espírito do Concílio Vaticano II e segundo as exortações e diretivas pontifícias para a renovação da vida religiosa no mundo de nosso tempo. Esse trabalho é fruto da oração e meditação, da fidelidade e experiência das comunidades e religiosos de todas as Províncias. Eis aqui então, as Constituições dos Missionários de Nossa Senhora da Salette e as Normas Capitulares. Elas são o instrumento pelo qual o Espírito, que anima a lgerja, nos chama, dia a dia, à prefeição da caridade no Cristo, ao serviço de todo o seu povo, para a glória do Pai.

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